Spotlight:O silêncio das redações na mídia de Boston e do Brasil

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Surpresa no Oscar! Há vida inteligente no cinema americano. Um belo filme disputou e ganhou a estatueta de Melhor Filme e Melhor Roteiro Original (excelente), depois de receber aplausos e ter sido premiado também pelo Sindicato de Roteiristas de Los Angeles.  Oscars mais que merecidos.

Spotlight- Segredos Revelados, do diretor Tom McCarthy, trata da denúncia histórica de pedofilia que acabou pública, em 2002, envolvendo 249 padres criminosos e o Cardeal Bernard Law, de Boston, que acobertou nada menos que três mil casos durante 18 anos. Um episódio gravíssimo que, em médio prazo,  colocou em cheque  o corpo da igreja católica e ecoa até hoje nos quatro cantos do mundo.

O mega escândalo adormeceu durante 15 anos nas gavetas e nos arquivos do jornal The Boston Globe por conta da força de dissuasão e da influência avassaladora da igreja na cidade, maior comunidade católica dos Estados Unidos e oriunda de imigrantes irlandeses da mesma fé. Mais da metade dos assinantes do prestigioso jornal eram, na época, católicos: fieis fervorosos, a maioria praticantes,  outros, bissextos, de tradição familiar.

Muito já foi escrito sobre Spotlight no Brasil, há mais de um mês em cartaz, atraindo milhares de espectadores e candidato ao Oscar deste ano. As resenhas sobre o filme celebram, em geral, a ação do grupo de destemidos e sérios repórteres da editoria Spotlight – palavra que significa holofote, em inglês; no jargão jornalístico equivalente ao mantra ‘onde há sombras que se jogue a luz da informação’ -, do jornal The Boston Globe. Enfim, depois de uma década e meia (!) o diário pariu uma série de matérias com a sinistra história que levou algumas vítimas ao suicídio, e  lesões psicológicas irreparáveis em outras.
Quase todas as crianças violentadas, estupradas ou abusadas pelos padres vinham da população mais pobre de uma das mais opulentas, belas, bem administradas e esnobes cidades do país. Um detalhe do gênero ‘não vem ao caso’, quase nunca lembrado.

Mas o que nos incomoda e chama nossa atenção, nesse filme de linha, é o subtema do qual poucos profissionais da velha mídia tratam – e os da mídia independente também. O silêncio dos jornalistas do grande jornal bostoniano que jogavam golfe, frequentavam os mesmos bares, restaurantes, se visitavam e partilhavam de eventos sociais, eram amigos dos personagens envolvidos no escândalo abafado. Advogados, juízes, personagens ricos e respeitáveis da comunidade. Incomoda o manto de silêncio que desabou, discretamente, sobre a redação do The Boston Globe ocultando crimes da igreja católica.

Foi preciso um editor-chefe judeu, Marty Baron, vindo da Florida, (hoje ele trabalha no Washington Post) um “de fora”, como é visto com condescendência num dos diálogos; um que deseja “marcar presença pelos jornais por onde passa”, insinua-se em outra conversa, para lancetar o tumor como acabaram fazendo, com tenacidade e convicção pessoal, os da equipe da editoria de spotlight, quatro repórteres do jornalismo investigativo honesto.

O editor Walter Robinson (Keaton), chefe do grupo, quinze anos antes, quando chefiava a editoria de assuntos de cidade fora um dos jornalistas que ajudaram a fazer morrer o assunto publicando uma reles notícia sobre o assunto e ‘matando’ a produção de uma suíte.

No filme, acrescenta-se: “Faltou responsabilidade editorial a um jornal que, se é, na verdade, independente, deve defender as instituições” iluminando com seus holofotes os desmandos e abusos eventuais delas. Do contrário, se corre o risco de comunidades inteiras silenciarem (e se acumpliciarem) como ocorreu com os ‘bons alemães’ no período nazista, como também é mencionado num diálogo.

Roteiro enxuto, de Josh Singer e do próprio McCarthy, a produção conta com um elenco sóbrio, primoroso. Primeira categoria. Rachel Adams, Michael Keaton, Mark Ruffalo  e Matt Carol fazem os quatro jornalistas investigativos. Mas Liev Schreiber na pele do Editor e, em especial, o sempre ótimo Stanley Tucci, um dos mais inteligentes atores do cinema americano de sua geração, arrebata, como costuma fazer, a atenção do espectador nas sequências em que aparece. Tucci faz o advogado armênio Mitchel Garabedian, defensor das vítimas dos padres pedófilos de Boston. Nas suas falas, denuncia de leve uma ponta do racismo que toca a sociedade local.

Segredos Revelados vem num pacote de produções inspiradas em episódios reais e se relacionam com fatos atuais desenrolados no Brasil neste momento. Em A Grande Aposta, os conluios espúrios de grandes bancos e agências globalizadas de classificação de risco de economias nacionais gerando desastres econômicos para milhões de indivíduos. No filme Trumbo é lembrado o quanto pode ser perniciosa a figura jurídica da delação premiada estimulada irresponsavelmente e com critérios frouxos como ocorre com o trabalho da turma da República do Paraná ao laurear até marginais reincidentes em crimes praticados no passado, como o notório Yousseff.

No caso presente, nos interessou a síndrome do ‘controle da informação’ que acomete redações de jornal, como bem assinalou em artigo escrito com coragem e sinceridade a jornalista Tereza Cruvinel. ”A vida de Mirian e os desdobramentos do caso,” ela diz, “ao longo dos anos, sempre foram acompanhados com interesse pela imprensa, não para produzir notícia, mas para o controle da informação, digamos assim.”

Uma ‘hipocrisia midiática.’ Em Boston e aqui.

“Para os donos e para os profissionais da imprensa nacional, não há surpresa alguma, não há novidade alguma no que a jornalista Mirian Dutra contou (…)  sobre seu relacionamento com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.”

Durante os últimos 30 anos, nem os estagiários de redações brasileiras desconheciam as aventuras do ex-presidente nem o “caso” Mírian Dutra.  “Nunca se ignorou que a  TV Globo  mantinha Mirian contratada mas não a pautava,” lembra a jornalista no seu blog. (Exceções: quando auxiliou, mas sempre em segundo plano, coberturas em Portugal e na Itália.)

“Então não me venham, caros colegas, com estes ares de novidade. No mais, fomos todos cúmplices (…)   Nunca ninguém sequer cogitou, em nenhuma redação de Brasília, de escrever sobre o assunto.“*
O escândalo dos católicos de Boston, religiosos,  e fieis e jornalistas que se deixaram manipular pela igreja local já está devidamente iluminado pelos holofotes.

Aqui, na era da internet, o colossal escândalo  vem sendo esmiuçado pela mídia digital envolvendo uma reeleição presidencial (talvez imerecida; que se não tivesse acontecido teria mudado, quem sabe, o rumo da vida nacional); o abuso cínico de dinheiro público dos falsos catões da oposição do PSDB e o constrangimento ao limbo profissional de uma repórter –  recurso de prática aliás conhecido e reincidente nas redações.

O que falta agora, para mais além do mea culpa dos jornalistas, é mudança nas normas éticas do seu trabalho. Discutir, por exemplo, a tal ideia do “controle de informação” num dos habituais seminários, debates e mesas redondas profissionais em que se reúnem, às vezes para discutir o sexo dos anjos.
Denunciar o gargalo do mercado de trabalho criado pela mídia oligárquica submetendo ao silêncio forçado os profissionais temerosos de perder o emprego e o poder que detêm – ou por necessidade básica ou por mera vaidade.

Denunciar outra síndrome nefasta que sempre acometeu  os jornalistas: o deslumbramento com os universos e os ambientes da fama, do poder, notoriedade e do dinheiro com os quais passam a conviver, nos quais começam a circular e dos quais não querem mais abrir mão.

Insistir na necessidade da regulação da mídia brasileira e fortalecer sindicatos sem pelegos e entidades de classe independentes.

Depois dos episódios dos pedófilos de Boston, o cardeal que encobriu os milhares de crimes de 250 padres da sua diocese foi punido e transferido para a prestigiosa Igreja de Santa Maria Maggiore, em Roma, onde vive semi-recluso. Nem o papa Francisco o recebe.

No escândalo brasileiro, o protagonista central, o ex-presidente que “já entrou para o Olimpo histórico, onde se pensa que nada mais pode atingi-lo,” como lembra a jornalista Cruvinel, se manifesta atordoado embora continue blindado por obsequioso  e espantoso! – silêncio da velha mídia, seus artífices e colaboradores.
Resta quem? Apenas nós, cidadãos, cúmplices também sonsos da hipocrisia midiática? Ou da hipocrisia nacional?

 

*Jornalista
Léa Maria Aarão Reis*

*A revista Caros Amigos, em São Paulo, publicou, há cerca de dez anos, matéria de capa sobre o caso Mirian Dutra/FHC. O assunto morreu ali. Não houve suíte de outro veículo. Nem interessou a um único repórter investigativo como os que hoje pululam por aí.

Uma Coisa E Outra

A bela Charlize Theron teria ajudado segurança em convulsão no Oscar

As mais gatas do Oscar 2013
A noite do Oscar não foi só de badalação para a atriz Charlize Theron. Pouco antes da premiação começar, a bela de 37 anos correu para ajudar um segurança que sofria uma convulsão, afirma o site Huffington Post.

O homem que trabalhava no local passou mal e a atriz era uma das únicas pessoas ao redor. Ela tentou ajudá-lo enquanto outras pessoas chamavam um médico.

Charlize não foi nomeada a nenhuma categoria, mas dançou no palco do Oscar com Channing Tatum durante o monólogo de abertura do apresentador Seth MacFarlane.

Argo” e Ang Lee são os grandes vencedores do Oscar 2013

LOS ANGELES (AFP) – Argo, de Ben Affleck, melhor filme, e o Ang Lee, melhor diretor, foram os destaques da cerimônia da entrega da 85ª edição do Oscar, realizada na noite deste domingo no Dolby Theatre, em Los Angeles.

Ben Affleck (à frente) e a equipe de Argo recebem o Oscar de Melhor Filme. Foto: Kevin Winter/Getty Images/AFP
Argo também levou os prêmios de melhor montagem e melhor roteiro adaptado, enquanto que o filme de Ang Lee, As aventuras de Pi, conquistou o Oscar de melhor fotografia, efeitos visuais e trilha sonora. O filme de Ang Lee estava indicado em 11 categorias.

Sem Affleck no páreo pelo prêmio de direção, Ang Lee acabou tirando o Oscar de Steven Spielberg, que era o favorito junto com seu filme Lincoln, que contabilizava 12 indicações ao todo.

Lincoln acabou ficando apenas com o Oscar de direção de arte e melhor ator para Daniel Day-Lewis. A melhor atriz foi Jennifer Lawrence, por O lado bom da vida.

O outro filme que mais levou prêmios foi Os miseráveis, Oscar de maquiagem, mixagem de som e atriz coadjuvante para Anne Hattaway. O melhor ator coadjuvante foi Christopher Waltz, por Django Livre, que também levou Oscar de melhor roteiro original para Quentin Tarantino.

A cerimônia teve a apresentação, pela primeira vez, de Seth McFarlane, e participações especiais como a da primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, que anunciou o Oscar de melhor filme.

A seguir, os premiados com o Oscar 2013:

Melhor filme: Argo

Melhor ator: Daniel Day-Lewis por Lincoln

Melhor atriz: Jennifer Lawrence por O Lado Bom da Vida

Melhor ator coadjuvante: Christoph Waltz por Django Livre

Atriz coadjuvante: Anne Hathaway por Os Miseráveis

Melhor direção: Ang Lee por As Aventuras de Pi

Melhor roteiro original: Django Livre (Quentin Tarantino)

Melhor roteiro adaptado: Argo (Chris Terrio)

Melhor filme estrangeiro: Amor (Áustria)

Melhor filme de animação: Valente

Melhor fotografia: As Aventuras de Pi: Claudio Miranda

Melhor figurino: Anna Karenina: Jacqueline Durran

Melhor maquiagem: Os Miseráveis

Melhor trilha sonora original: As Aventuras de Pi: Mychael Danna

Melhor canção: 007 – Operação Skyfall, de Adele, Paul Epworth (“Skyfall”)

Melhor edição de som (empate):

007 – Operação Skyfall

A Hora Mais Escura

Melhor mixagem de som: Os Miseráveis

Melhor montagem: Argo

Melhores efeitos visuais: As Aventuras de Pi

Direção de arte: Lincoln

Melhor documentário: Searching for Sugar Man

Melhor documentário curta: Inocente

Melhor curta: Curfew

Melhor curta animado: Paperman

Brasil fica fora de corrida pelo Oscar

A Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood divulgou hoje a lista com os nove filmes que ainda concorrem a uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Apesar dos esforços para promover “O Palhaço” nos Estados Unidos, o filme de Selton Mello não está entre eles. O último filme que o Brasil conseguiu emplacar na disputa foi “Central do Brasil” (1998).

No dia 10 de janeiro, serão anunciados os cinco candidatos que concorrerão ao troféu. O vencedor será anunciado na cerimônia de premiação, no dia 24 de fevereiro.

Os nove filmes selecionados são:

“Amor” (Áustria), de Michael Haneke;

“War Witch” (Canadá), de Kim Nguyen;

“No” (Chile), de Pablo Larraín;

“A Royal Affair” (Dinamarca), de Nikolaj Arcel;

“Intocáveis” (França), de Olivier Nakache e Eric Toledano;

“The Deep” (Islândia), de Baltasar Kormákur;

“Kon-Tiki” (Noruega), de Joachim Rønning e Espen Sandberg;

“Além das Montanhas” (Romênia), de Cristian Mungiu;

“Sister” (Suíça), de Ursula Meier.

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Leia mais em:

http://www.valor.com.br/cultura/2949140/brasil-fica-fora-de-corrida-pelo-oscar#ixzz2G6o3fvzM

Bin Laden pode levar o Oscar

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O filme “A Hora Mais Escura”, sobre a caçada ao líder da Al-Qaeda, está bombando
Antes mesmo de entrar em cartaz, o filme já ganhou seus primeiros prêmios.
Quando a corrida para o Oscar parecia já ter seu principal candidato a vencedor com The Master, de Paul Thomas Anderson, eis que aparece um grande concorrente, causando polêmica e arrecadando prêmios: A Hora Mais Escura, o novo filme da diretora Kathryn Bigelow em parceria com o roteirista Mark Boal, ambos vencedores no Oscar de 2010 por Guerra ao Terror.

A Hora Mais Escura, que estreia dia 18 de janeiro no Brasil, conta a história da caça do exército americano a Bin Laden. O título não apenas se refere a um termo cunhado pelos soldados para denominar o horário (meia-noite e meia) da missão, como a escuridão dela em si.

O roteiro original era focado no começo da década passada, quando se acreditava que Bin Laden estava escondido nas montanhas afegãs de Tora Bora. Mas a morte do líder da Al-Qaeda em 2011 forçou-os a reescrever grande parte da história.

Mesmo antes de começar a ser rodado, o filme já causava polêmica, acusado de ser pró-Obama. Por conta disso, teve sua data de lançamento remarcada para dezembro de 2012. Inicialmente, o filme entraria em cartaz em outubro, exatamente um mês antes das eleições. Além disso, a liberação de conteúdo confidencial do governo aos produtores envolvidos no projeto foi motivo de muita discussão. Muitos jornalistas afirmaram que as informações favoreciam Obama.

Jessica-Chastain
Jessica Chastain faz uma agente da CIA no longa
Com toda essa Controvérsia, o filme estreou no Festival de Nova York e acabou aclamado pela crítica, vencendo os prêmios de Melhor Direção, Melhor Filme e Melhor Direção de Fotografia, além de render elogios a Jessica Chastain, que vem se firmando como uma das grandes atrizes do cinema atual desde sua participação em A Árvore da Vida, de Terrence Mallick. Jessica faz uma agente da CIA que participa da operação.

Mesmo polarizando opiniões, A Hora Mais Escura tem tudo para ser um dos maiores filmes do ano, juntando a competência do time de Guerra ao Terror a um dos acontecimentos mais marcantes deste século, tornando-se histórico por ser o primeiro a abordar, com informações extraídas diretamente de documentos do governo americano, o assassinato do terrorista mais conhecido do mundo, responsável pela catástrofe de 11 de setembro.

E, definitivamente, entrará para a corrida do Oscar 2013, com grande possibilidade de receber os votos patrióticos da Academia.
DIEGO MARQUES__Diário do Centro do Mundo